domingo, 23 de novembro de 2008

Uma rivalidade entre católicos e protestantes



Eu fui criado num seio católico. Meus avós participam dos rituais da igreja, meus pais também vestegiam uma prática de "católico não praticante". Fui batizado, confessei e ainda tive a reafirmação de cristo ao fazer a 1ª eucarístia, pois aos 9 anos a criança "começa a pecar", ou seja, Deus já pode imputar a ela seus castigos (um paralelo com a maioridade penal, creio). Mas eu nem curto muito me chamar de católico não praticante, pois eu sou católico fraquinho. Seria talvez mais um burguês positivista, ou mesmo um relativista descrente na positividade. Parece que ser católico é acreditar veemente nas séries de suposições próprias daquela religião, ou participar dos ritos.
Posso ter negado aquela estrutura rígida que se tem da religião como "crente de todos os dogmas", mas eu ainda tõ sistematicamente entretido com aquelas perspectivas. E não acho isso nem ruim, afinal, é o que eu sou e é nisso que sou/serei feliz (auto-estima).
Ao meu preconceito para com os não católicos, quero falar dos protestantes. São os evangélicos, os anglicanos, os assembleianos. Esses são coisas que aprendi durante toda uma vida - minha mãe não curte a idéia de que seus filhos tenham companheiros protestantes, meus primos também não gostavam que eu brincasse com os "nativos" de Cajueiro-RN, porque eles serem, em sua maioria, crentes.

Eu reproduzo isso, e às vezes me sufoca a idéia de ir a uma igreja protestante. Não que eu seja preconceituoso, mas é que a minha crença simplesmente não permite ver naqueles espaços um ambiente que eu me sinta "bem". Mas os respeito, acredito, e, sinal de que isso não é uma barreira hierárquica na minha vida, a categoria "crente" não me distancia de quem eu me apaixono (só se quiserem "me converter" :P).

Vejo argumentos de ambos os lados, entre católicos e protestantes, que tentam valorar um mais que o outro. Os protestantes argumentam que a reza, prática católica, é tida como "sem sentido ético"; o que vale é "orar a Deus". Os católicos chamam as igrejas protestantes de caça-níqueis, querendo ludibriar os seus fíeis para enriquecer seus bolsos. Bobagem de ambas as partes - Talvez a experiência de uma reza possa significar a um católico uma experiência emocionante, representativa e reflexiva para com a ética. Ou não. Da mesma maneira, os pastores de igrejas protestantes não se sintam caça-níqueis. Ou sim.

E aí me deixa bastante triste é a manipulação de fatos para justificar discursos de ódio: "Saíam da igreja católica porque a experiência não tem contato com Deus e os padres são todos pedófilos", ou "Os pastores querem apenas roubar seu dinheiro, eles são alienadores!". Se você for pesquisar no google, especificando nas páginas brasileiras, sobre "Jim Jones", o pastor que organizou o maior suicídio coletivo da história moderna, você lerá um discurso bem manipulável por parte da igreja católica sobre as igrejas protestantes: http://www.universocatolico.com.br/content/view/672/3/

Enfim, o que fazer nesse conflito do tipo Vasco e Flamengo, ou brasileiros e argentinos? Eu sinceramente creio que é bom não falar da religião dos outros, ou nem tentar se comparar. Ficar caladinho e sem contato parece-me o mais correto, apesar dessa ética de "não me toque" me parecer bem fraca.

Me deixa triste quando ambas as partes me chamam de "coitado", "burro", "infeliz" por não ir à igreja, apesar de ser católico e por, apesar de ser um católico, não acreditar que Jesus Cristo é um homem santo.

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Minha dissertação de mestrado: Direito Romano: Uma sociocosmologia para pensar o direito. (com óbvias influências levistraussianas como teoria)
Minha tese de doutorado: "Não misturemos argumentos racionais com religião" - Constituição e crença.

Locus etnográfico? Tribunais, faculdades de direito, leitura de manuais jurídicos. Só me falta deixar de ser nativo.

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PS: Peço licença aos católicos e cristãos para utilizar a imagem de Cristo aqui. Ele também faz parte da minha vida.

2 comentários:

pedrasepernas disse...

Me provocando, Xandecão?

Isabela Bentes disse...

eu achava que tu era ateu ó!
mas não acho que ficar caladinho seria uma boa idéia. Discussões geram boas idéias quando boas idéias são debatidas.
;)
E essa de Igreja Católica e Igreja Protestante é mesmo a mesma discussão entre flamengo e vasco, argentinos e brasileiros. O que diferencia é o número de mortos a mais ou a menos.

bjos xandela!