domingo, 2 de novembro de 2008

O Sol esfriou.


O frevo me contagia. Se ele me contagia, o frevo é doença?


Salete, a empregada da minha casa, estava falando sobre como a temperatura de Brasília tem sido irregular no mês de outubro de 2008. Ela afirmou: “Realmente, sexta-feira estava muito quente, mas hoje o Sol esfriou”. Eu fiquei pensando sobre essa afirmação e que, caso eu não tivesse num contexto cultural dela, pegando uma “tradução ao pé da letra”, aquela frase indicaria que Salete era “irracional”. Ora, desde quando sexta-feira, uma dimensão cronológica, poderia ser classificada como “quente”? E será que, ao Salete afirmar que o “Sol esfriou”, ela acredita que as variações de temperatura dessa Brasília se deve ao Sol ter diminuído a sua irradiação de calor?
No entanto, não creio que Salete acredite que a nossa dimensão temporal seja classificável como frio ou quente, nem que o Sol, o astro, esfriou. Acho que ela simplesmente quis afirmar que “na sexta feira, a sensação térmica estava mais quente”, que “a sensação térmica tem relação com o Sol” e que “a sensação térmica de hoje está mais fria [o Sol esfriou]”.
Esta pequena história doméstica serve aqui como uma ilustração de uma dificuldade que temos em relação às sociedades diferentes, sociedades as quais não temos identidade. Quando escutamos alguns mitos indígenas, quando nos dimensionamos perante diversas expressões simbólicas que se mostram de difícil compreensão, emitimos um parecer de que “não há racionalidade nessas sociedades”. Surgem idéias de que as sociedades tradicionais são “bárbaros”, “selvagens” – são expressões de histeria.
Eu poderia pegar um exemplo ilustrativo de alguma etnografia indígena, maximizando minha análise, mas estou com falta de livros aqui perto. (uma questão importante de se pensar: serão sociedades sujeitos?) Acredito que Salete não é louca. Observar o familiar apenas me deixou um pouco mais bárbaro.

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